Sobre filhos comparação e aceitação
O meu ventre gerou três seres, o primeiro chegou eu tinha apenas 16 anos o segundo 3 anos depois e por último chegou Clarice a quem amorosamente dei a alcunha de Clarice Bonita.
No final de 2015 conheci a minha filha Clarice, ela chegou com um diagnostico de microcefalia e desde então a minha vida foi transformada completamente. A vivência com uma filha com deficiência neurológica e o contato com tantas famílias que enfrentam os mesmos desafios me faz pensar o conceito de deficiência muito além daquele que o olhar médico descreve.
Ter uma filha que habita um corpo com deficiência no interior do Nordeste brasileiro exige da mãe o esforço diário de desconstruir em si mesma o modelo ideal de "normalidade" arraigado culturalmente.
O dia a dia escutando de tantas outras mães os relatos de preconceitos (de descaso do poder público com a saúde, a falta de acessibilidade e de uma educação inclusiva) traz para a palavra deficiência uma dimensão politica e me faz entender que os problemas que a minha filha enfrenta está mais vinculado com restrição à participação plena provocada pelas barreiras sociais do que com a sua condição física e neurológica.
Ao fazer essa reflexão lembro-me de uma querida amiga chamada Jamine, brasileira que teve um filho com deficiência na Belgica e durante algum tempo viveu por lá, através do seu relato é que confirmo que a maneira como as crianças brasileiras nascidas com microcefalia são enxergadas como deficientes mais que um problema de diagnostico médico é o resultado da opressão de um país negligente na formulação de políticas públicas e sociais que acolha a diversidade.
Uma
das grandes lições que
Clarice me trouxe é que
a pior coisa que
uma mãe pode fazer ao filho é compará-lo.
-Como
assim Eron?
Eu respondo!
Quando comparamos uma criança a
outra estamos cortando suas asas, tentando encaixá-la
num padrão para agradar ou simplesmente ser aceito.
Cada
crianças é única e igualmente linda aos olhos de Deus, cada uma
tem seu brilho e sua potencialidade,
mesmo se não move um músculo sequer, mesmo se não enxergar nada,
toda mãe pode fazer o destino do filho mais leve se simplesmente lhe
valorizar na sua essência.
Passei a vida inteira comparando
meus dois filhos maiores, porque
um é simpático demais, porque
o outro é mais inteligente, porque
um é muito carinhoso, acabei criando muito nó que prendia e
limitava seus movimentos e hoje Clarice veio com a sua luz abrir meus
olhos e me deu a força capaz de desatar esse nó e transformá-lo
em laço.
Hoje tudo que era COMPARAÇÃO é ACEITAÇÃO!
Clarice
fará sua história, no seu tempo, com todo o respeito que merece,
vou continuar lutando para que
ela possa andar, falar, enxergar...
Sem comparações com qualquer outra criança, por que somos únicos e por tanto incomparáveis! Também não faço comparações entre mães, mas quando tá difícil penso na mãe de Jesus e ela me inspira a dá o meu melhor.
Deficiência não se resume ao catálogo de doenças e lesões de uma perícia biomédica do corpo é um conceito que denuncia a relação de desigualdade imposta por ambientes com barreiras a um corpo com impedimentos.(DINIZ et. al, 2009, p. 21)